10.11.09

O aspecto moral da Realidade Última

A religião, como ferramenta de controle social, é sempre moral. Moral que, apesar de iniciada sobre valores positivos, quase sempre se torna perversa, justificando atrocidades e desmandos.

A maioria dos livres pensadores com um viés espiritualista vem de uma religião oficial e paulatinamente dela se afasta, por adotar uma postura crítica perante atitudes incoerentes e absurdas. Entre seu próprio juiz interno e a autoridade constituída, opta corajosamente por responsabilizar-se por seu destino. No entanto, décadas de vida sob o jugo religioso deixam marcas. A maior delas é buscar um sentido moral para a realidade.

Essa é a pedra de roseta para compreender a grande confusão em que nos encontramos. Buscar um sentido moral, um valor basicamente humano, no infinito, é como buscar justiça na gravidade ou felicidade no vento. Pode até funcionar em termos poéticos e alegóricos, mas configura-se um desastre como literariedade. Daí vem as pérolas que ouvimos em cultos televisivos, de como Deus está feliz, bravo ou, a minha preferida, decepcionado com alguém (alem d´Ele não ser onisciente, configura-Se como um péssimo avaliador de caráter).

Aqueles que buscam o fazem por sentir a realidade como manifestação de uma Inteligência una que se expressa como beleza e harmonia, na Criação atemporal e dinâmica. Quaisquer reflexos de atividade humana no céu são absolutamente fantasiosos e servem apenas para alimentar o ego do observador.

Retornando a questão apresentada no post carma e linearidade, e tendo clara a natureza absolutamente especulativa do que digo, vejo o carma como um maravilhoso instrumento de harmonia e perfeição. Mas de forma alguma como um elemento moral.

Se a realidade é uma só, um único continuum, devemos esperar que suas leis sejam coerentes. E a maior delas é a necessidade de equilíbrio. Isso ocorre na matéria. A relatividade nos diz que uma massa de alguma forma distorce o espaço-tempo ao seu redor. Outra massa, posta em seu raio de ação responderá, atraindo reciprocamente a massa original até que ambas estejam em um estado de equilíbrio dinâmico. Psicologicamente, os mecanismos de reação do individuo a estímulos externos, sendo a satisfação o estado de equilíbrio desejado, são bastante conhecidos. E espiritualmente as tendências na relação recíproca do indivíduo com o ambiente são a efetivação dessa lei do equilíbrio através do carma. Um processo que atrai as condições necessárias para que a consciência atinja a Harmonia. Não é um processo moral. Não é causa e feito de suas ações a outrem. Não há prêmio ou castigo. E só aquilo que você precisa para Ser.

E para aqueles que se aferram a uma realidade necessariamente moral, lembramos que não é um código externo que conduz o homem à virtude, mas sua capacidade de colocar-se no lugar do outro. Esse é o único valor absoluto. Um comportamento moral derivado de um deus moral é quase sempre frágil e questionável.

Além do que aquilo que entendemos por deus é só uma possibilidade.

Aliás, nós também somos.

Abraço.

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